Alguns dos internautas, em
especial os que tem a idade próxima da minha :-), devem lembrar de que na nossa
época de adolescentes ao voltarmos de uma festa, viagem, passeio ou um local no
qual estávamos... era comum a expressão:
´... esqueci uma coisa´ ... o
rastro...
Pois é, a brincadeira evolui e se
tornou coisa séria. O que mudou é que as pessoas não olham para isso nem como
brincadeira, nem como algo real, ou seja, não se dão conta que estão deixando
um rastro efetivo e real, mas no mundo virtual.
O rastro digital se
concretiza pela nossa marca, em especial no mundo web. Tudo o que fizemos na
rede deixa registros permanentes. Penso ser possível dizer que mais da metade
da população mundial tem rastros digitais que jamais serão apagados. Loucura!?...
Então vejamos: Quem de nós ainda não postou fotos ou informações de avós, tios
ou outras pessoas de terceira idade que não acessam a web e talvez jamais
acessarão, mas que contudo tem também o seu rastro digital. As fotos na maioria
das vezes são marcadas com os nomes das pessoas. Quantas famílias assim que o
bebê nasce postam nos seus blogs e nas redes sociais as fotos, compartilham e
comentam. Aliás muitos bebes são mais novos que o seu próprio rastro digital,
pois este nasce antes mesmo deles virem ao mundo, com fotos das barrigas das
mamães das ecografias em 3D que dependendo da qualidade do aparelho permitem
praticamente visualizar os rostinhos dos bebês.
Muitos podem pensar: Resolvido:
não quero mais minha presença na web eu simplesmente apago o que está postado.
Contudo isso não é tão simples assim, pelo menos não no que tange a apagar esse
rastro digital.
Primeiramente, porque tudo o que
postamos na internet pode ser rapidamente replicado em outros sites, serviços,
mídias e locais que nem temos consciência de onde estão. Isso gera um índice de
capilaridade geométrica de todas as informações, imagens e vídeos disponíveis,
o que aliás esta trazendo para a sociedade um novo conceito: o BIG DATA (este é assunto para outra
edição). Brewster Kahle, em 1996 fundou
uma a Archive Internet, uma fundação
destinada a manter a historicidade da Internet de forma legalizada, onde se
mantem cópias de portais de todo o mundo em momentos diferentes da história
digital e da qual ninguém altera nada, apenas consulta as informações ali
encontradas (historicidade da Internet Mundial).
Segundo, porque não é apenas o
que postamos que forma o nosso rastro digital, mas sim tudo o que acessamos,
pesquisamos, clicamos, compramos, apagamos... enfim, tudo o que fazemos. Nas redes sociais, primeiramente nos ´logamos´
(fornecemos nossa senha e nosso login), para então navegarmos através dos
nossos relacionamentos. Com isso, toda essa navegabilidade é possível de ser
medida, estratificada e usada, seja em benefícios dos nossos desejos ocultos,
através de anúncios que aparecem de forma personalizada para cada pessoa, seja
em benefício de empresas e instituições que se utilizam dessas informações para
nos entender como consumidores, para nos monitorar e nos direcionar a ações de
consumo ou mesmo a adesão de ideias específicas.
Os próprios buscadores como o
Google conseguem hoje direcionar resultados de pesquisas diferente de acordo
com o perfil da pessoa que está pesquisando e utilizando os seus softwares e,
isso, não é nenhuma mágica, apenas códigos de programação aliados ao rastro
digital de cada internauta.
Mesmo outros portais de
informação ou de e-commerce trabalham com o uso de cookies, que são códigos de
softwares instalados nos nossos computadores e que permitem ao portal
reconhecer que estamos logados, o que já acessamos, quais as nossas
preferências.
E aí, diante disso, devemos parar
de usar esses recursos??? Penso que o radicalismo em nenhuma circunstância é
positivo. O que precisamos, nesse caso é ter consciência de que deixamos marcas
precisas e preciosas a cada clique que damos na internet e que isso pode ser
usado tanto para nos ajudar quanto para nos atrapalhar.
A questão não é a tecnologia, mas
o uso que o homem faz dela. Portanto da mesma forma que alguém mal intencionado
pode ficar espionando a sua vida real por meses e entendendo os seus hábitos de
movimentação física em frente a sua casa, existem pessoas que, com certeza, se
utilizaram dos recursos digitais para também atualizar os seus métodos.
Além disso, é preciso entender
que não dissociamos nossa vida pessoal da nossa vida digital, aliás elas estão
cada vez mais casadas. Hoje os próprios processos de recrutamento e seleção
empresas dos mais diferentes portes analisam o nosso rastro digital e tiram
dessa análise importantes informações sobre o nosso SER, em essência. As
gerações mais novas se mostram com mais naturalidade ainda no mundo digital.
Porém, parecem não ter clareza de que isso é algo que fica registrado, ou que
na melhor das hipóteses deixará rastros digitais efetivos na sua história
digital.
A questão não está em usarmos ou não
usarmos, ou na leitura que se faz de como cada um utiliza os recursos digitais,
o que posta, o que pesquisa ou como faz. O fato é que precisamos ter
consciência de que somos responsáveis sim pelo rastro digital que estamos
construindo do nosso ser e, que infelizmente muitas coisas não serão possíveis
de serem modificadas.
É preciso esclarecer que existem
formas de trocas de informações seguras na internet e que garantem a
confidencialidade das informações, como por exemplo, portais de bancos,
comércio eletrônico, dentre outros. Nesse caso se trabalha com criptografia, ou
seja, utiliza-se uma codificação diferente, com códigos de segurança
específicos e palavras transformadas em códigos indecifráveis para terceiros
(criptografadas). Uma das formas de saber se o site o usa a criptografia e
atentar para o endereço do mesmo que normalmente é direcionado para https://...
Nesse caso o nosso rastro digital fica
restrito a instituição com a qual estamos realizando as operações em questão.
Contudo, é preciso ter clareza
que o mundo livre ao qual temos acesso na enorme gama de serviços e
possibilidades da internet nos cobra numa moeda diferente: as nossas
informações e os nossos hábitos. É também com isso que a internet cresce e se
fortalece e, também por isso que nós somos beneficiados. Porém precisamos ter
essa clareza: a cada clique dado aumentamos o nosso rastro digital na web.
Para quem tiver maior interesse
recomendo que iniciem pela leitura das políticas de privacidade das Redes
Sociais que utilizam e também do Sr. Google.